segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cidadania Celestial e o Governo Terreno – Marcos 12:13-17

Serie de Sermões em Marcos

Titulo: Cidadania Celestial e o Governo Terreno – Marcos 12:13-17

Pregado na manhã de Domingo, do dia 25 de Setembro de 2011,

na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,

por Gustavo Barros

Marcos 12:13-17 13 Mais tarde enviaram a Jesus alguns dos fariseus e herodianos para o apanharem em alguma coisa que ele dissesse. 14 Estes se aproximaram dele e disseram: "Mestre, sabemos que és íntegro e que não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. É certo pagar imposto a César ou não? 15 Devemos pagar ou não? " Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, perguntou: "Por que vocês estão me pondo à prova? Tragam-me um denário para que eu o veja". 16 Eles lhe trouxeram a moeda, e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição? " "De César", responderam eles.17Então Jesus lhes disse: "Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". E ficaram admirados com ele.

Introdução e Contextualização:

A Bíblia é clara em mostrar que todos aqueles que nascem do Espírito se tornam filhos de Deus, e sendo assim, se tornam cidadãos do Reino de Deus. A partir do momento que a pessoa é retirada do reino das trevas e passada para o reino da luz, ela adquire uma nova cidadania:

Ef 2:19 Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus; Fp 3:20 A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.

Uma vez que somos salvos, nós nos tornamos estrangeiros nessa terra:

Hb 11:13 Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra.
Hebreus 11:13; I Pe 2:11 Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma.

À luz dessa realidade, como deve o cristão viver nesse mundo? Como deve o cristão se comportar na terra em que ele vive? É o cristianismo uma religião tão orientada celestialmente que não cede lugar para as coisas deste mundo? O cristianismo é realmente uma religião tão obcecada pelas coisas espirituais que não tem visão para as coisas materiais como o governo?

A história nos mostra que a igreja já respondeu (e ainda responde) de duas maneiras radicais e opostas:

1 – total alienação da sociedade - - - a pessoa se ‘esconde’ em comunidades e monastérios (ex. Amish) – a pessoa se aliena de toda obrigação civil.

2 – tenta fazer do estado uma grande igreja - - - acreditam que a ‘espada’, que é o poder de julgar, deve ficar nas mãos da igreja (ex. Igreja Medieval, Cruzadas)

Agostinho escreveu o livro ‘A cidade de Deus’ (De Civitate Dei), obra que levou 10 anos para ser concluída e era uma refutação ao argumento que a queda de Roma se deu por causa do abandono aos deuses romanos. Nesse livro Agostinho mostra de forma clara e sóbria que os cristãos apesar de serem cidadãos celestiais, têm o dever de serem excelentes cidadãos na cidade dos homens. E isso é uma grande verdade bíblica. Apesar de não sermos desse mundo, nós ainda estamos nele! Por um lado nós somos estrangeiros e peregrinos, por outro somos chamados a sermos exemplos de cidadãos nesse mundo do qual não pertencemos. E isso não é fácil de viver!

CONTEXTO:

Continuamos o intenso terceiro dia da última semana do nosso Senhor Jesus, dia esse cheio de controvérsias e ataques da parte dos líderes religiosos. A entrada de Jesus em Jerusalém, a condenação do Templo e a parábola dos lavradores irritaram de forma profunda esses homens que buscam de toda forma um modo de apanhar Jesus (12:13). Eles fracassaram com a questão da autoridade, por isso agora eles partem para uma nova questão – a questão do imposto!

Divisão do Estudo:

i – A QUESTÃO DOS IMPOSTOS (VS.13-15A)

ii – A QUESTÃO DA IMAGEM (VS.15B-16)

III – A RESPOSTA FINAL (V.17)

I – a questão dos impostos (vs.13-15a)

13 Mais tarde enviaram a Jesus alguns dos fariseus e herodianos para o apanharem em alguma coisa que ele dissesse. 14 Estes se aproximaram dele e disseram: "Mestre, sabemos que és íntegro e que não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. É certo pagar imposto a César ou não? 15 Devemos pagar ou não?

MAIS TARDE” --- Após a parábola de julgamento contada por Jesus sobre os lavradores injustos que mataram os escravos e o filho amado do dono da vinha, os líderes religiosos saíram para bolar um outro plano (12:12). Esse ‘mais tarde’ se refere a algum tempo depois desse disparo feito por Jesus. “ENVIARAM A JESUS ALGUNS DOS FARISEUS E HERODIANOS” - É muito provável que esse envio veio do Sinédrio. O Sinédrio (Synedrionsyn = junto / hedra =assento) era a corte suprema dos judeus em Jerusalém. Esse grupo era constituído de sacerdotes (levitas), membros de famílias ricas (saduceus e fariseus) e escribas. Eles tomavam as decisões para com as situações religiosas em Jerusalém.

O que nós temos aqui é a suprema corte dos judeus contra Jesus! E essa suprema corte envia pessoas de dois grupos diferentes:

* FARISEUS - grupo religioso que se desenvolveu durante o período Macabeu. Eles eram os ‘separatistas’, com grande foco na separação e pureza – adoravam as tradições orais.

* HERODIANOS - esse era um grupo que apoiava o reinado de Herodes Antipas. Eram comparados aos saduceus, pois a preocupação deles era muito mais política do que religiosa.

Esses dois grupos se odiavam. Os fariseus eram totalmente contra as idéias dos herodianos. Esses dois grupos eram contrários em suas crenças:

FARISEUS

HERODIANOS

LEGALISTAS

SINCRETISTAS

MUITO RELIGIOSOS

POUCO RELIGIOSOS

PREOCUPADOS COM A LEI DE DEUS

PREOCUPADOS COM A LEI DE ROMA

QUEREM HONRAR A DEUS

QUEREM HONRAR A CESAR

RESISTIAM AO GOVERNO

COLABORAVAM COM O GOVERNO

Apesar de todas essas diferenças eles se unem no assunto em que eles menos concordavam na tentativa de destruir Jesus! O ódio a Jesus é a solda que cola esses dois grupos!

* A verdade não se ajunta com a mentira, mas a mentira se ajunta com outras mentiras!

Então esses dois grupos que eram tão contrários um ao outro se unem na tentativa de pegar Jesus.

Por que o Sinédrio enviou esses dois grupos?

para o apanharem em alguma coisa que ele dissesseἵνα αὐτον ἀγρεύσωσιν λόγῳ

Após serem confrontados várias vezes pela verdade do Evangelho esses homens se endurecem ainda mais. Eles querem APANHAR - ἀγρεύω – apanhar como caça – em armadilha ou rede.

ἀγρεύσωσιν λόγῳ - Eles querem apanhar Jesus em Suas palavras. Eles querem apanhar Aquele que é a Palavra (λόγος) em Sua palavra.

O que eles querem com a pergunta é colocar Jesus dentro da armadilha.

14 Estes se aproximaram dele e disseram: "Mestre, sabemos que és íntegro e que não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade

* O que é isso? Eles realmente reconheceram Jesus como o maior de todos? Não! Essas palavras todas fazem parte da encenação para apanhar Jesus.

Eles elevam a barra no degrau mais alto para depois pedirem que Jesus pule. Eles colocam os mais nobres perfumes em Jesus para depois jogá-Lo na lama com os porcos.

Após toda a falsa bajulação eles atacam com a pergunta:

É certo pagar imposto a César ou não? 15 Devemos pagar ou não?

Parece uma pergunta simples e fácil de ser respondida, mas na verdade essa questão é uma das mais profundas e complexas que alguém poderia perguntar a um rabino em público.

Essa pergunta é como uma espada de dois gumes.

Imposto já era um assunto que levantava o ódio dos judeus devido aos pesados impostos cobrados pelos romanos. “Alguns estimam que os judeus pagavam 49% da renda anual nos vários impostos: 32% para os romanos [12% com colheita; 13% vendas, salários], 12% eram impostos dos próprios judeus, e 5% em extrações forçadas de oficiais corruptos” (Zondervan Illustrated Bible Background Commentary – Matthew, pg.137).

Se o imposto por si já era polemico, quanto mais o kensos!

A palavra ‘imposto’ - κῆνσος - é a palavra usada para o imposto tributário que todos os homens tinham que pagar todo ano para o império romano. O problema desse imposto não era o valor dele (um denário representava um dia de trabalho), mas é a conotação simbólica para os judeus.

Esse imposto era uma lembrança constante de que eles estavam sob o domínio de um governo pagão, cujo imperador era considerado deus e cujas terras eram proclamadas de César. Toda vez que pagavam esse imposto eles estavam se submetendo ao domínio romano.

A pergunta pode ser refeita assim: ‘É da vontade de Deus que nós nos submetamos a esse império que adora outros deuses e tem dominado a terra prometida?’

Um pouco de história facilitará o entendimento de quão comovente era essa pergunta:

Em 6 a.C. quando César Augusto tomou a região da Judéia (Iduméia) e fez dela uma província romana ele impôs esse imposto – kensos (imposto tributário). Todo ano as pessoas precisavam pagar esse imposto de recenseamento para Roma. Nesse mesmo ano (6 a.C.) um homem chamado Judas da Galiléia se revoltou contra esse imposto, pois ele acreditava que pagá-lo era apoiar o domínio dos pagãos na terra prometida – ele e um bando de outros revoltados se levantaram contra o império romano alegando que se eles pagassem tal tributo, seriam infiéis e apoiariam o governo de Roma sobre a Palestina (ver Josephus War 2.118; Ant. 18.4-10).

At 5:36-37 Há algum tempo, apareceu Teudas, reivindicando ser alguém, e cerca de quatrocentos homens se juntaram a ele. Ele foi morto, todos os seus seguidores se dispersaram e acabaram em nada. Depois dele, nos dias do recenseamento, apareceu Judas, o galileu, que liderou um grupo em rebelião. Ele também foi morto, e todos os seus seguidores foram dispersos.

Judas chamou os judeus que pagavam os impostos de ‘covardes’.

Apesar de Judas e seus amigos terem sido mortos, a ideologia deles foi mantida e alimentada por outros judeus – os Zelotes. A destruição de Jerusalém em 70 d.C. foi conseqüência das primeiras revoltas em 66 d.C. quando alguns judeus se revoltaram contra os impostos e começaram a criar as próprias moedas.

A questão sobre imposto não é uma pergunta qualquer, ela mexia com as emoções e convicções de todos – pois tocava em assuntos como a terra prometida, o governo de um rei davídico, a soberania de Israel e escravidão.

"Moeda" e "poder" foram considerados como sinônimos, de modo que a moeda era o símbolo do domínio do governante. "No século II d.C, Bar Kochba, o falso messias, substituiu as moedas romanas com suas próprias moedas, como forma de afirmar seu poder. Pagar o tributo a César, assim, era reconhecer o poder de César; e aprovar a contribuição do tributo a César era reconhecer a legitimidade do seu poder” (http://vftonline.org/VFTfiles/thesis/commentators/Rushdoony/RenderUntoCaesar.htm)

O contexto também é de extrema importância:

1 – É na Páscoa que os judeus iam ao Templo pagar o imposto anual do Templo. É na semana que eles precisam pagar o imposto do templo que esses líderes religiosos levantam a questão do imposto de Roma – um contraste!

2 – Jesus foi aclamado ‘rei’ em sua entrada em Jerusalém. Um rei deve impor o seu reino e sua moeda.

3 – No Templo Ele pregou as Boas Novas e essa era a mensagem de um novo reino, o Reino de Deus. Um novo reino deve rejeitar o reinado romano.

Todos esse contexto leva a crer que Jesus irá responder que ‘Não’!

Veja como essa pergunta se torna uma armadilha:

A – Se Jesus respondesse que ‘SIM’, que os impostos devem ser pagos, os fariseus iriam condená-Lo publicamente por ser um pró-romano – isso implicaria em um alvoroço no templo onde as pessoas começariam a condená-Lo de ser um falso messias, pois eles tinham a certeza que o messias seria contra o governo romano.

B – Se Jesus respondesse que ‘NÃO’, os impostos não devem ser pago, que eles não devem apoiar um governo idólatra, daí os herodianos O acusariam de ser um ‘Judas Galileu’ – Jesus seria condenado por ser um rebelde.

Aos olhos humanos Jesus está em uma ‘sinuca de bico’. O que fazer?

II – a questão da imagem (vs.15b-16)

Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, perguntou: "Por que vocês estão me pondo à prova? Tragam-me um denário para que eu o veja". 16 Eles lhe trouxeram a moeda, e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição? " "De César", responderam eles.

Jesus classifica essa atitude deles como HIPOCRISIA (v.15). HIPOCRISIA - ὑπόκρισις – palavra usada para atores que usavam máscaras diferentes para as apresentações. A palavra tem o sentido de alguém que atua sob uma máscara. Eles cobriram a carnalidade, o pecado e a maldade por trás de belas palavras! É como aquela figueira, exteriormente estava linda, mas no interior estava tudo podre!

POR QUE VOCÊS ESTÃO ME PONDO À PROVA’ --- Mateus coloca assim: Mas Jesus, percebendo a má intenção deles, perguntou: "Hipócritas! Por que vocês estão me pondo à prova? (22:18). A palavra ‘prova’ (gk. πειράζω) seria melhor traduzida como ‘tentando’. Essa palavra serve tanto para o sentido positivo de testar alguém com o intuito de que a pessoa passe pela prova, como também para tentar alguém com o intuito de reprová-la. O contexto mostra que eles querem que Jesus seja reprovado e humilhado!

Isso mostra quão satânicos eles são – eles agem como o pai deles (Jo 8:44 Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira) [Assim como satanás tentou Jesus agora é a vez deles].

Essa palavra aparece quatro vezes em Marcos, e em todas, ela tem um sentido de reprovação (1:13; 8:11; 10:2; 12:15).

Jesus condenas esses homens verbalmente chamando-os de hipócritas e tentadores.

E agora Jesus faz com que eles mesmos se condenem:

TRAGAM-ME UM DENÁRIO PARA QUE EU O VEJA’ – É interessante que Jesus poderia simplesmente ter criado uma moeda ali, Ele poderia simplesmente puxar uma do bolso dEle do nada, mas Ele pede que eles tragam a moeda. Por quê?

Os judeus não carregavam o denário com eles. Eles usavam outro tipo de moeda no dia-a-dia.

O denário de prata tinha em um dos lados o desenho do imperador junto com seu título oficial – nos dias de Jesus era Tibério – TIBERIUS CAESAR DIVI AUGUSTI FILIUS [filho do divino Augusto] e do outro lado havia o título PONTIFEX MAXIMUS [sumo-sacerdote] com a deusa da PAX sentada no trono – representado que todos estão sujeitos à PAX romana.

Os judeus preferiam não carregar essa moeda, pois ela era repleta de idolatria.

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Ao trazerem a moeda eles mostram que eles não são tão patriotas assim, pois eles mesmos têm a moeda – diferentemente de Jesus que não a possui! Outro detalhe, eles estão no templo e mesmo ali eles carregam um objeto ‘profano’, mostrando a total falta de reverência deles.

No entanto, eles não têm moral nenhuma de criticar Jesus por falta de patriotismo ou de escrúpulos religioso, se eles mesmos já estavam carregando o dinheiro ‘idólatra’ imperial” (R.T. France – The New International Greek Testament Commentary of the New Testament – Eerdmans, pg. 466).

v16 ‘Eles lhe trouxeram a moeda, e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição?’

Jesus quer que eles participem da ‘brincadeira’, por isso ele usa mais uma vez a tática da contra-questão: “Owen-Ball argumenta que a contra-pergunta segue um padrão de retórica formal comum na literatura rabínica do primeiro século em que (1) um intruso levanta uma questão hostil para com um rabino, (2) o rabino responde com uma contra pergunta, (3), ao responder à contra-pergunta, o intruso se torna vulnerável ao ataque, e (4) o rabino então usa a resposta do intruso para a contra-pergunta para refutar a questão hostil. A utilização de Jesus desta forma retórica é uma maneira de estabelecer Sua autoridade como um rabino, não muito diferente de um advogado moderno que utiliza a retórica, formal e legal no tribunal. Além disso, o ponto da troca de retórica é, em última análise, para refutar a questão hostil.(http://www.lewrockwell.com/orig11/barr-j1.1.1.html)

’DE CESAR’ RESPONDERAM ELES

O nome da família de Júlio (‘César’) se tornou o título dos imperadores romanos – todos os imperadores eram chamados de ‘César’.

Ao afirmarem que é César quem tem a imagem e inscrição na moeda, eles estão afirmando que o poder do imperador é real e aceito sobre eles, pois se entendia que o poder de um governante se estendia até onde suas moedas circulavam.

Visto que é a imagem de César e as moedas estão em circulação naquele lugar, então logicamente o imperador romano tem autoridade ali – isso é lógico. A moeda está em circulação naquele lugar + a imagem e inscrição de César estão na moeda = autoridade do imperador naquele lugar.

iII – a resposta final (v.17)

17Então Jesus lhes disse: "Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus"

Visto que é a imagem de César que está na moeda, então a moeda é dele!

Por isso [visto que a autoridade de César é real ali] ‘Dêem a César o que é de César’ -

Dêem’ -- ἀποδίδωμι – dar de volta, pagar o que se deve. O verbo composto implica em uma dívida (Mt 5:26; 18:25-34; Lc 7:42; 10:35).

Na pergunta eles usaram o verbo didomi (v.14), mas Jesus responde usando apodidomi. Ao mostrar que César é o governante daquela área, Jesus mostra que o verbo precisa ser mudado. Eles não estão só dando, mas eles estão pagando algo que eles devem ao governo, eles estão dão de volta o que pertence a César.

O verbo assim sugere que não é só ‘permitido’ o pagamento, mas é de fato justo, então negar o pagamento seria defraude” (France, pg. 469).

Que dívida é essa para que Jesus ordene que todos paguem o imposto? É para com o trabalho do governante! Eles prestam serviços: você tem segurança, água, eletricidade, esgoto, rua...

O QUE É DE CÉSAR [GOVERNO]?

Paulo expande ainda mais esse ensino de Jesus em Romanos 13. Vale a pena lembrar que tanto o evangelho de Marcos como a carta aos Romanos foram escrita para cristãos que viviam em Roma – lugar hostil para com o cristianismo.

1Todos [toda alma viva] devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois [a razão/o motivo da submissão] não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas [Paulo mostra claramente que todo governo e governante foi, é e será estabelecido por Deus – Ele é soberano]. 2Portanto [como conseqüência dessa verdade], aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos. 3Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. 4Pois é serva de Deus para o seu bem [o governante/o governo é servo de Deus]. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal [esse é o dever do Estado – ser justo]. 5Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência. 6É por isso também que vocês pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. 7Dêem a cada um o que lhe é devido: Se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra. 8 Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei. (Rm 13:1-8)

Pedro também escreve algo semelhante a Paulo (isso mostra que os dois entenderam da mesma forma esse ensino de Jesus) – ver I Pedro 2:11-17 [v.13Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, v.14seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem.v.17 Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei ]

O que devemos dar a César?

1 – Todos devem dar a submissão/sujeição (Rm 13:1; I Pe 2:13)! Jesus nunca chamou os cristãos para serem rebeldes e revolucionários. O próprio Jesus e os seus apóstolos se submeteram aos governantes - mesmo diante da morte injusta. A submissão é por causa de Deus e não por causa da autoridade civil em si. Outro motivo é por causa da punição que o governo irá impor.

2 – Todos devem pagar os impostos por eles requeridos (Mc. 12:17; Rm 13:7). Até o governo que executou o Filho de Deus é merecedor de receber os impostos. Assim também os cristãos na Coréia do Norte, Irã, Indonésia e tantos outros países que perseguem os cristãos. Por pior que seja o uso desse oficio, ainda assim é muito melhor do que sem ele, pois ainda há ordem.

* Os judeus nos dias de Jesus estavam usufruindo das bênçãos do governo romano – apesar da presença de Roma ser uma maldição de Deus, ainda assim eles tinham vários benefícios: estradas, segurança (pax)...

3 – Todos devem dar honra ao governo (I Pe 2:17; Rm 13:7). Se você acha difícil honrar um governo como o nosso, agora imagine você ser exortado a honrar um governo que quer te matar por causa da sua crença em Jesus?! Essa honra e submissão não são por causa dos governantes em si e nem por causa dos governos em si, mas por causa de Deus! I Pe 2:13Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens.

A Bíblia mostra que:

1 – Todo governo, por mais iníquo que seja (como o império romano, como a Alemanha de Hitler, os governos de Stalin e tantos outros], foi estabelecido por Deus (Rm 13:1-2)! Foi Deus quem criou o governo – isso não é resultado da carência do homem para ser governado, mas é graça de Deus.

Adão foi colocado no Jardim do Éden para governá-lo, Moisés foi chamado para governar o povo, Davi e tantos outros. Até mesmo os reis pagãos eram e são instituídos por Deus (I Re 12:15; Jr 27:6; Dn 2:21).

O governo é demonstração da graça comum de Deus! O governo foi criado e estabelecido por Deus para o nosso bem (Rm 13:4)!

Devemos agradecer a Deus pelas autoridades civis que nos governam, pois é da vontade de Deus que isso ocorra! É a vontade de Deus governar a terra com homens em autoridades civis.

Se você acha que o estado do nosso país não tem como piorar, retire o governo e você verá quão terrível ficará! O governo é um meio de manter as coisas em ordem por pior que ele seja.

Imagine um lugar sem governo, sem distribuição de água, sem segurança nenhuma, sem alguém governando a distribuição de eletricidade, sem cuidar do esgoto.

Se você acha que o transito é ruim, imagine sem radares e outras fiscalizações?

É graça de Deus, pois o governo restringe a totalidade da iniqüidade. Um país sem governo é um lugar caótico: estupros, roubos, assassinatos, doenças, falta de água, tudo sem medida... um milhão de vezes pior do que é com um governo.

2 – O governo representa uma característica de Deus. Deus é mostrado como um juiz, um governante – alguém que coloca ordem e pune as coisas erradas. O governo tem como um dos objetivos mostrar um aspecto do caráter de Deus. Governo e autoridade são coisas boas! Mas nem sempre são usados de forma correta.

Algumas questões surgem naturalmente:

1 – O que fazer quando o governo demanda e ordena algo que é contrário aos mandamentos e padrões de Deus?

2 – Eu devo sempre obedecer ao governo (me submeter) não importa o que eles pedem?

3 – Como honrar o governo quando ele me chama a desobedecer ao Senhor?

Para responder a essas perguntas nós precisamos olhar a segunda parte da frase de Jesus:

Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” -

O que é de Deus? O que pertence a Deus? O que você deve a Deus? TUDO!

Sl 24:1-2 Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem; pois foi ele quem fundou-a sobre os mares e firmou-a sobre as águas.

Lv 25:23 A terra não poderá ser vendida definitivamente, porque ela é minha, e vocês são apenas estrangeiros e imigrantes.

Dt 10:14 Ao Senhor, ao seu Deus, pertencem os céus e até os mais altos céus, a terra e tudo o que nela existe.

I Co 3:21-23 Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, 22seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro; tudo é de vocês, 23 e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus.

A lógica da moeda continua nessa afirmação: A moeda tem a imagem e inscrição de César, por isso ela deve ser dada a ele – nós temos a imagem de Deus, por isso nossas vidas devem ser dadas por completo a Deus.

Somente algumas esferas das nossas vidas devem ser entregues às autoridades civis/Estado – parte do nosso dinheiro, certa submissão e honra. Mas todo o nosso ser deve ser dado a Deus!

O QUE FAZER QUANDO O CÉSAR (O ESTADO) LHE PEDIR ALGO QUE PERTENCE A DEUS? O QUE FAZER QUANDO O ESTADO REQUER ALGO DE VOCÊ QUE VAI CONTRA OS PADRÕES DE DEUS? O QUE FAZER QUANDO CÉSAR TOMA O LUGAR DO SENHOR? [por exemplo: se o governo ordenar que não se pregue contra o homossexualismo? Se o governo obrigar que os cristãos não se reúnam em igrejas? Se o estado declarar que ele é quem deve ter o domínio sobre seus filhos? Se o presidente declara que todos devem se prostrar diante da imagem dele em adoração?]

O que precisa ficar claro é que o Governo não é autônomo – ele não é uma lei para si mesmo. Toda a autoridade do Governo foi delegada por Deus. O Estado é um ‘servo’ de Deus (Rm 13:4). “O Estado deve ser um agente de justiça, para coibir/deter o mal através da punição do malfeitor, e proteger a pessoa que faz o bem na sociedade. Quando ele faz o inverso, ele perde a autoridade, pois ele passa a usurpar a autoridade concedida por Deus, e assim se torna desregrado e tirânico” (Francis Schaeffer – A Christian Manifesto).

Imagine se os apóstolos não tivessem desobedecido ao Estado? Imagine se Willian Tyndale não tivesse desobedecido ao Governo? A desobediência algumas vezes é dever do cristão (John Bunyan, John Knox...)

Samuel Rutherford (1600-1661) escreveu uma tremenda obra chamada Lex Rex (A Lei é Rei [1644]). A idéia principal do livro é que a Lei é Rei, a lei está acima do rei (governantes) – se o rei e o governo desobedecem à lei, eles devem ser desobedecidos. E a lei da qual Rutherford fala é a Lei de Deus. Esse livro foi proibido na Inglaterra e na Escócia. Esse livro atacava o fundamento ideológico da política do século 17 na Europa – onde os reis tinham autoridade divina para fazerem o que queriam. O texto chave para ele foi Romanos 13.

A Bíblia nos mostra claramente que a Lei de Deus está acima do Estado: At 4:19 18 Então, chamando-os novamente, ordenaram-lhes que não falassem nem ensinassem em nome de Jesus. 19Mas Pedro e João responderam: "Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. 20Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos". At 5:29 27Tendo levado os apóstolos, apresentaram-nos ao Sinédrio para serem interrogados pelo sumo sacerdote, 28que lhes disse: "Demos ordens expressas a vocês para que não ensinassem neste nome. Todavia, vocês encheram Jerusalém com sua doutrina e nos querem tornar culpados do sangue desse homem". 29Pedro e os outros apóstolos responderam: "É preciso [Gk. dei – necessidade, obrigação] obedecer antes a Deus do que aos homens!

“Quando Jesus diz, ‘Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’ não é:

Deus e César (lado a lado). Mas sim, foi, é e sempre será: DEUS (acima de) César. O governo civil, como tudo em nossas vidas, está sob a lei de Deus” (Francis Schaeffer – The Complete Works of Francis Schaeffer – volume five, pg. 468).

Desobediência civil é às vezes uma obrigação do cristão!

V.17 - “E ficaram admirados com ele

A resposta de Jesus foi algo que eles jamais esperariam. A sobriedade e a sabedoria de Jesus deixaram-nos admirados/perplexos.

* Eles ficaram admirados, mas não arrependidos! A maior tragédia é alguém ouvir as Palavras de Jesus e ao invés de se entregar a Ele por completo em arrependimento, ficar apenas admirado. A admiração por Jesus deve te levar à crucificação!

Como os lavradores, esses homens não têm dado o que pertence ao Dono da Vinha, por isso uma terrível julgamento os espera!

Há Julgamento para quem não dá ao Estado aquilo que deve ser dado – Rm 13:4Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal.

Há um julgamento ainda mais terrível para quem não dá a Deus o que Lhe pertence:At 12:23 E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu glória a Deus e, comido de bichos, expirou Rm 1:21porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram

CONCLUSÃO:

1 – Respondendo à pergunta com que começamos o sermão: Como cristãos – cidadãos celestiais – nós temos a obrigação de sermos cidadãos exemplares nessa terra que vivemos. Mostramos que, através de uma vida exemplar nessa terra, a pátria que nós aguardamos e o Reino do qual fazemos parte é muito superior e melhor. Jr 29:4-7 Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados, que deportei de Jerusalém para a Babilônia: 5"Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos. 6Casem-se e tenham filhos e filhas; escolham mulheres para casar-se com seus filhos e dêem as suas filhas em casamento, para que também tenham filhos e filhas. Multipliquem-se e não diminuam. 7Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela".
Como cidadãos celestiais que moram nesse mundo, nós temos nossas obrigações civis e devemos cumpri-las de tal forma que glorifique a Deus e atraia as pessoas do mundo!

2 – A autoridade civil, os poderes políticos são bênçãos de Deus! O governo, por pior que seja, sempre será melhor que anarquia. Não espere do governo que ele aja como cristão – o estado não é cristão, espere dele o que ele deve providenciar – justiça, segurança, saneamento, ruas...

Mas o cristão deve saber que o Estado está sob a autoridade de Jesus! Jo 19 10-11 "Você se nega a falar comigo? ", disse Pilatos. "Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo?" Jesus respondeu: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior".

Por isso é obrigação e dever do cristão desobedecer ao Estado, quando esse nos obriga a irmos contra os mandamentos de Deus, desobedecendo assim o nosso Senhor Jesus!

A conclusão é que algumas vezes não é somente certo, mas obrigação, desobedecer ao estado” (Francis Schaeffer – The Complete Works of Francis Schaeffer – volume five, pg. 469).

O Senhor honra aqueles que desobedecem ao Estado para obedecerem aos Seus mandamentos:

Raabe, Sadraque/Mesaque e AbedeNego (Daniel 3) e Daniel – são exemplos excelentes de pessoa que deram a César o que era de César, mas quando César pediu o que era de Deus eles não entregaram!

* O cristão deve ser obediente às leis da sua cidade, pagar os seus impostos, honrar o governo, ser exemplar o máximo possível – até onde não vá contra os mandamentos de Deus!

3 – Como cristãos nós temos a imagem de Deus em nós e por isso nós devemos todo nosso ser a Ele!

Você tem dado toda a sua vida?

- Você tem dado o seu tempo a Deus? Ou você não tem tempo para Ele? [Tem gente que sempre tem tempo para assistir um programinha de TV, consegue se levantar mais cedo para fazer o que lhe agrada (academia, exercícios...) – mas nunca tem tempo para orar e ler a Palavra]

- Você tem dado a sua família para Deus? Ou você a tem dado para o Estado?

- Você tem dado seus bens? Você tem dado seu dinheiro? Ou Ele não é dono e merecedor disso em sua vida? [Tem gente que tem dinheiro para um monte de coisa, menos para o Senhor – se você convida para sair e ir a um restaurante, a pessoa vai de boa, mas quando o assunto é dízimo/ofertas a pessoa de repente não tem dinheiro para isso – hipocrisia. “Muitos tomam todo o cuidado para dar aos homens o que lhes é devido, mas não tomam cuidado algum para dar a Deus o que Lhe é devido” – Matthew Henry]

** Se há julgamento para aqueles que não dão ao Estado o que ele merece, quanto maior condenação haverá para quem não dá o que é devido Àquele que é merecedor de tudo!

Se você ainda não deu a Deus o que é dEle – isto é, a sua vida – não perca tempo. Não basta só ficar maravilhado com a vida e os ensinos de Jesus: é preciso tê-Lo como Senhor e Salvador. Você dá a Deus o que é dEle quando você, pela fé em Jesus, é crucificado com Ele. Como eu dou minha vida para Deus? Mc 8:34 Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me
Portanto dê ao Estado o que lhe pertence e dê a Deus o que lhe pertence!

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