domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os Últimos Dias de [Acordo com] Jesus - Parte III - Marcos 13:14-23

Serie de Sermões em Marcos
Titulo: Os Últimos Dias de [Acordo com] Jesus - Parte III - Marcos 13:14-23
Pregado na manhã de Domingo, do dia 12 de Fevereiro de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Gustavo Barros

Versão em vídeo

Marcos 13: 14-23 14 "Quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar — quem lê, entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes. 15 Quem estiver no telhado de sua casa não desça nem entre em casa para tirar dela coisa alguma. 16 Quem estiver no campo não volte para pegar seu manto. 17 Como serão terríveis aqueles dias para as grávidas e para as que estiverem amamentando! 18 Orem para que essas coisas não aconteçam no inverno. 19 Porque aqueles serão dias de tribulação como nunca houve desde que Deus criou o mundo até agora, nem jamais haverá. 20 Se o Senhor não tivesse abreviado tais dias, ninguém sobreviveria. Mas, por causa dos eleitos por ele escolhidos, ele os abreviou. 21 Se, então, alguém lhes disser: ‘Vejam, aqui está o Cristo! ’ ou: ‘Vejam, ali está ele! ’, não acreditem. 22 Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão sinais e maravilhas para, se possível, enganar os eleitos. 23 Por isso, fiquem atentos: avisei-os de tudo antecipadamente.
Introdução e Contextualização:
A graça de Deus deve ser o nosso firme fundamento. Paulo nos diz que pela graça nós somos salvos (Ef 2). Deus sempre se revelou como um Deus gracioso (Ex 34:6). E não há lugar melhor para refletirmos sobre a graça de Deus do que na cruz de Cristo. Na imensa escuridão da cruz é que brilha com mais intensidade a graça de Deus.
E é sobre todo o processo da crucificação e ascensão que Jesus alerta os Seus discípulos. Apesar de todo sofrimento, frustração e incompreensão, serão naqueles momentos que a graça de Deus irá superabundar!
Que a graça triunfante de Cristo na cruz seja o nosso guia enquanto atravessamos esse maravilhoso capítulo no evangelho de Marcos!
CONTEXTO:
Após um dia de intensos e raivosos debates dentro do templo (11:27-12:44), Jesus e Seus discípulos abandonam àquele lugar (13:1a) – simbolizando o julgamento de Deus naquele lugar. Enquanto eles saiam, um dos discípulos comenta sobre o templo e a cidade de Jerusalém (13:1b). Muito mais que um mero comentário de um caipira da Galiléia na cidade de Jerusalém, as palavras do discípulo são uma tentativa de encorajar e animar Jesus. Aqueles homens ainda tinham como base da fé deles a Teologia de Sião, na qual as pessoas eram encorajadas a olhar para o templo, andar pela cidade e meditar na segurança e esperança que eles refletiam (Sl 48; 132 [vs 7-8,13-15]; 134).
A resposta de Jesus é chocante, pois ao invés de concordar com a Teologia de Sião, Jesus libera palavras inimagináveis (13:2). Jesus promete a destruição daquele lugar. Mas Ele não estava falando da construção em si, mas sim de tudo o que aquele templo representava. O templo representava uma religião incapaz de promover o verdadeiro perdão; o templo apontava para Cristo. É na morte de Jesus, quando o véu é rasgado e o sangue de Cristo derramado que o templo é totalmente destruído – a partir daquele momento, aquele lugar, aquela religião, é cumprida e perde todo o valor. Essas foram as últimas palavras de Jesus em público, e a partir de então as pessoas começam a rejeitar Jesus - a euforia acaba e ódio daqueles que antes O apoiavam começa a crescer.
Mais tarde Jesus se encontra no Monte das Oliveiras de frente para o templo – a imagem é de Jesus, a glória de Deus abandonando o templo e se posicionando como um inimigo daquele sistema (Ez 11:22-23; Zc 14:3-4).
Os discípulos, quando em particular (13:3), perguntam sobre o evento profetizado por Jesus. Pois para eles o templo era o lugar do reinado do Messias. O templo era a garantia de vitória. Como poderia Jesus falar que aquele lugar seria destruído?
Eles fazem duas perguntas (13:4): 1) Quando? – essa é uma pergunta normal e esperada; 2) Quais os sinais? – essa pergunta é um problema, pois como Marcos nos mostra, quem pedia por sinais eram os hipócritas e inimigos de Jesus.
Jesus passa grande parte do discurso alertando Seus discípulos sobre os perigos da busca por sinais (13:5,9 – cuidado!). Ao invés de procurar sinais eles devem cuidar de suas próprias vidas, pois os dias são terríveis – esses são os últimos dias de Israel como foram profetizados pelos profetas (Sf 1:7-8; Joel 2:31; Malaquias 4:5). Jesus os lembra que eles não são meros espectadores e que a prioridade é o compromisso em pregar o Evangelho e perseverar nessa tarefa (13:10,13).

DIVISÃO DO ESTUDO:
I – A GRAÇA DE DEUS NO SACRILÉGIO TERRÍVEL (V.14)
II – A NECESSIDADE DA GRAÇA DE DEUS NOS DIAS DE TRIBULAÇÃO (Vs.15-18)
III – A GRAÇA DE DEUS NA MAIS TERRÍVEL TRIBULAÇÃO (V.19)
IV – A SOBERANA GRAÇA DE DEUS (Vs.20-23)


I – a graça de deus no sacrilégio TERRÍVEL (V.14)
14 "Quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar — quem lê, entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes.
Ὅταν δὲ ἴδητε τὸ βδέλυγμα τῆς ἐρημώσεως ἑστηκότα ὅπου οὐ δεῖ, ὁ ἀναγινώσκων νοείτω, τότε οἱ ἐν τῇ Ἰουδαίᾳ φευγέτωσαν εἰς τὰ ὄρη
Após os avisos de Jesus para que Seus discípulos ficassem atentos e tomassem cuidado com a busca por sinais (13:5-13), o versículo 14 traz uma mudança. O ‘sacrilégio terrível’ anunciado por Jesus é um acontecimento que aponta para a concretização do evento catastrófico proferido por Ele em 13:2. Até o versículo 13, Jesus os alerta sobre os perigos de falsos sinais (guerras, terremotos, fomes e pessoas negando o ofício de Jesus), pois tudo isso é parte desse mundo caído e marcado pelo pecado.
Mas o versículo 14 traz algo novo!
MAS QUANDO VOCÊS VIREM” --- A frase tem logo no início a conjunção grega ‘δέ’ – conjunção coordenativa adversativa ‘mas’, ‘no entanto’, sinalizando uma mudança.
Jesus disse que eles veriam guerras, terremotos, perseguições, mas todas essas coisas não apontavam para o fim. Mas quando eles vissem o ‘sacrilégio terrível’, de fato esse evento apontaria para algo importante.
Jesus declara que aqueles homens veriam esse ato de profanação. Portanto, Jesus não está falando de um evento que ainda ocorrerá, mas que ocorreu!
“‘O SACRILÉGIO TERRÍVEL’ NO LUGAR ONDE NÃO DEVE ESTAR
A grande questão é: o que é esse ‘sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar?
Alguns alegam que se trata de um futuro anticristo que irá tomar o seu lugar num futuro templo em Jerusalém (futuristas). Outros interpretam que o ‘sacrilégio terrível’ foi a destruição do templo romano por Tito em 70 d.C. (preteristas).
Jesus está claramente se referindo ao profeta Daniel. Veja que o nosso Senhor diz, “quem lê, entenda” – isto é, o leitor de Daniel tem agora entendimento para interpretar o que foi proferido pelo profeta, pois está prestes a se cumprir. Ver Mt 24:15 "Assim, quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’, do qual falou o profeta Daniel, no lugar santo — quem lê, entenda.
Em Daniel encontramos essa frase nos capítulos 8:13, 9:27, 11:31 e 12:11.
Em todos os casos a referência é claramente sobre o mesmo evento de profanação do templo e o cessar das ofertas de holocausto.” (R.T. France, The New International Greek Testament Commentary on Mark, Eerdmans, pg 523)
Daniel 9:21-27 (após a oração de Daniel) 21 enquanto eu ainda estava em oração, Gabriel, o homem que eu tinha visto na visão anterior, veio a mim, voando rapidamente para onde eu estava, à hora do sacrifício da tarde. 22 Ele me instruiu e me disse: "Daniel, agora vim para dar-lhe percepção e entendimento. 23 Assim que você começou a orar, houve uma resposta, que eu lhe trouxe porque você é muito amado. Por isso, preste atenção à mensagem para entender a visão: 24 "Setenta semanas estão decretadas para o seu povo e sua santa cidade para acabar com a transgressão, para dar fim ao pecado, para expiar as culpas, para trazer justiça eterna, para cumprir a visão e a profecia, e para ungir o santíssimo. 25 "Saiba e entenda que a partir da promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o líder, venha, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas. Ela será reconstruída com ruas e muros, mas em tempos difíceis. 26 Depois das sessenta e duas semanas, o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele. A cidade e o lugar santo serão destruídos pelo povo do governante que virá. O fim virá como uma inundação: Guerras continuarão até o fim, e desolações foram decretadas. 27 Com muitos ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana ele dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está decretado".
Para Jesus, toda a profanação que já havia ocorrido em Israel apontava para a maior e mais terrível de todas as profanações – o Messias sendo crucificado - o verdadeiro Templo de Deus -foi a abominação que trouxe a desolação!
O sentido dessa frase ‘sacrilégio terrível’ é algo como, “uma coisa detestável que traz desolação”. Tanto no grego como no aramaico a frase representa um sacrilégio, uma abominação a Deus.
Em todo caso, essa expressão deixou uma marca permanente na consciência dos judeus, e ela passou a simbolizar uma terrível afronta à santidade da casa de Deus e a Deus.” (Beale and Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker, pg 223)
Pode significar tanto uma abominação que causa horror como também um sacrilégio tão terrível que causa desolação.” (Zondevan Illustrated Bible Background Commentary on Mark, pg 280)
“Quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’ [o substantivo é neutro] no lugar onde não deve [aqui o pronome é masculino - ele] estar”
στηκότα [histémi - colocar, colocar algo ou alguém em um lugar] που ο δε [onde ele não deve]
Quando vocês virem o sacrilégio terrível [o desprezo e rejeição para com o Messias culminando na cruz],que traz desolação e a ira de Deus, colocado no lugar onde Ele [Jesus] não deve estar [na corte dos judeus e dos gentios e na cruz], quando vocês virem isso, então fujam!
A profecia apocalíptica de Daniel (cheia de simbologia) se cumpriu em Jesus. A profecia acha seu perfeito cumprimento em Cristo! (ver Daniel 12:8-12)
Quando Daniel escreveu a profecia, a ele foi dito que não podia entender a visão, pois se tratava do fim dos tempos [Dn 12:4-13]. Quando Jesus chama Seus discípulos a entenderem, isso significa que o fim dos tempos estava ali, já que agora era possível o entendimento.” (Peter Bolt, Mark 13: An Apocalyptic Precursor to the Passion, The Reformed Theological Review, pg 28)
A ABOMINAÇÃO DO ASSOLAMENTO”, ou o “SACRILÉGIO TERRÍVEL --- é o processo de julgamento de Jesus pelos homens pecadores - tratado e julgado como um marginal e mentiroso pelos judeus e gentios, culminando na cruz. A cruz é o ápice do sacrilégio!
NO LUGAR ONDE NÃO DEVE ESTAR” --- aqui é Jesus nas cortes dos judeus e dos gentios – Ele não deveria estar lá. Isso culmina na cruz! O Filho de Deus jamais deveria estar naquele lugar! Ele era santo, íntegro, perfeito e jamais deveria estar no lugar de maior vergonha e desprezo. Mas por causa dos nossos pecados, por causa da rebeldia dos judeus e dos gentios, Ele foi para o lugar onde não deveria estar!
Quando os judeus desprezam o Messias e O entregam aos gentios para ser crucificado - esse sim é o grande sacrilégio. Uma profanação tão terrível, que como consequência traz a ira de Deus sobre todo o sistema religioso judaico. O templo é destruído e os sacrifícios são cessados!
Se essa linguagem apocalíptica está preparando os discípulos para morte vindoura de Jesus, isso implica que a crucificação será o ato destrutivo do sacrilégio. Isso se encaixa com o resto da história de Marcos, pois poderia haver um maior ato de sacrilégio do que a destruição do Filho de Deus de forma tão horrorosa? A liderança de Israel receberá o tão esperado Messias entregando-O para os gentios, isto é, entregando-O a ira de Deus. E se isso não fosse sacrilégio o suficiente, Pilatos, o representante dos gentios, receberá o Messias de Israel, e irá condená-Lo a morte através da crucificação... Se a destruição do templo de Deus por Nabucodonosor em 587 a.C., ou a profanação do templo por Antíoco Epifânio em 169 a.C., foi uma abominação cometida pelos gentios, quanto mais é o ‘templo do seu corpo’ profanado quando os gentios destroem o Filho de Deus na cruz ” (Peter Bolt, The Cross from a Distance – Atonement in Mark´s Gospel, IVP, pg 101)
Dessa vez não foi Antíoco Epifânio, mas, ironicamente, a liderança rebelde de Israel, cuja cega idolatria os levou a guerrear com o povo de Deus e matar o Filho do Homem.” (Beale and Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker, pg 224)
Se Jesus é a pedra angular do novo templo de Deus, então crucificá-Lo é verdadeiramente o ato supremo de profanação no templo. Por isso, o rasgar do véu na morte de Jesus é o sinal profético de que o templo está efetivamente ‘morto’’” (Beale and Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker, pg 224)
A abominação do assolamento é Jesus Cristo crucificado! Por isso, Jesus disse que eles veriam tamanho sacrilégio! Não se trata de um futuro anticristo entrando em um templo em Jerusalém e nem de Tito destruindo o templo em 70, mas do Filho de Deus sendo entregue à ira de Deus!
Quando os discípulos vissem o santo Messias sendo rejeitado e entregue aos gentios – o sacrilégio terrível profetizado por Daniel – então eles saberiam que o fim estava próximo!
Com a chegada do grande dia, só resta uma coisa:
FUJAM PARA OS MONTES” – não adiantará lutar, apenas fugir, pois será o pior dia da história da humanidade – o grande e terrível Dia do Senhor!
Essa frase reflete a severidade daqueles momentos. No Antigo Testamento o ‘fugir para os montes’ representa a tentativa de achar proteção no dia de julgamento do Senhor!
Jesus usa, mais uma vez, linguagem do Antigo Testamento para mostrar quão terríveis serão aqueles momentos.
Gn 19:17Assim que os tiraram da cidade, um deles disse a Ló: "Fuja por amor à vida! Não olhe para trás e não pare em lugar nenhum da planície! Fuja para as montanhas, ou você será morto!; Jr 16:16 Mas agora mandarei chamar muitos pescadores", declara o Senhor, "e eles os pescarão. Depois disso mandarei chamar muitos caçadores, e eles os caçarão em cada monte e colina e nas fendas das rochas; 49:8 Voltem-se e fujam, escondam-se em cavernas profundas, vocês que moram em Dedã, pois trarei a ruína sobre Esaú na hora em que eu o castigar; Lm 4:19 Nossos perseguidores eram mais velozes do que águias nos céus; perseguiam-nos por sobre as montanhas, ficavam de tocaia contra nós no deserto; Ez 7:16 Todos os que se livrarem e escaparem estarão nos montes, gemendo como pombas nos vales, cada um por causa de sua própria iniqüidade.
A hora e todos os acontecimentos serão tão terríveis que a única coisa que lhes restará é fugir! E é exatamente isso o que ocorre quando os discípulos começam a ver o maior e mais terrível ato de sacrilégio – o Filho de Deus sendo condenado pela nação de Israel: eles todos fogem (Mc 14:50 Então todos o abandonaram e fugiram)!
II – A NECESSIDADE DA GRAÇA DE DEUS NOS DIAS DE TRIBULAÇÃO (Vs.15-18)
15 Quem estiver no telhado de sua casa não desça nem entre em casa para tirar dela coisa alguma. 16 Quem estiver no campo não volte para pegar seu manto. 17 Como serão terríveis aqueles dias para as grávidas e para as que estiverem amamentando! 18 Orem para que essas coisas não aconteçam no inverno.
Jesus continua usando linguagem dos profetas do Antigo Testamento para ressaltar quão terríveis serão aqueles momentos. A linguagem de Jesus é muito mais ‘performativa’ do que ‘informativa’ (ver Bolt, The Cross from a Distance, pg 102). Portanto, não devemos buscar o cumprimento de todos os detalhes.
v.15 - “TELHADO” – era o lugar onde as pessoas encontravam refrigério e esconderijo.
Js 2:6 Ela, porém, os tinha levado para o terraço (telhado) e os tinha escondido sob os talos de linho que havia arrumado lá; Jz 9:51 Mas dentro da cidade havia uma torre bastante forte, para a qual fugiram todos os homens e mulheres, todo o povo da cidade. Trancaram-se por dentro e subiram para o telhado da torre.
v.16 - Quem estiver no campo não volte para pegar seu manto
SEU MANTO’ – Gk. ἱμάτιον = esse era o segundo manto usado. Ele era de extrema importância para a proteção e também servia como um colchão.
Somente as pessoas que estavam com muita pressa não pensariam em levar o manto.” (Zondevan Illustrated Bible Background Commentary on Matthew, pg 149)
Nem algo tão essencial e tão importante como essa vestimenta poderá ser levada!
Algo semelhante ocorre com João Marcos (?) – Mc 14:51-52 Um jovem, vestindo apenas um lençol de linho, estava seguindo a Jesus. Quando tentaram prendê-lo, 52 ele fugiu nu, deixando o lençol para trás.
Que é o cumprimento de Amós 2:16 Até mesmo os guerreiros mais corajosos fugirão nus naquele dia", declara o SENHOR.
v.17 - Como serão terríveis aqueles dias para as grávidas e para as que estiverem amamentando!
Mais uma vez o foco está na severidade daqueles momentos. Na antiguidade as mulheres grávidas eram extremamente vulneráveis, pois não tinham como correr e fugir com facilidade.
Jesus está dizendo que o Grande e Terrível Dia do Senhor será como em dias de guerras.
Esse vocabulário é também do Antigo Testamento:
II Re 8:12 E perguntou Hazael: "Por que meu senhor está chorando? " Ele respondeu: "Porque sei das coisas terríveis que você fará aos israelitas. Você incendiará suas fortalezas, matará seus jovens à espada, esmagará as crianças e rasgará o ventre de suas mulheres grávidas"; 15:16 Naquela ocasião, Menaém, partindo de Tirza, atacou Tifsa e todos que estavam na cidade e seus arredores, porque eles se recusaram a abrir as portas da cidade. Saqueou Tifsa e rasgou ao meio todas as mulheres grávidas; Os 13:16 O povo de Samaria carregará sua culpa, porque se rebelou contra o seu Deus. Eles serão mortos à espada; seus pequeninos serão pisados e despedaçados, suas mulheres grávidas terão rasgados os seus ventres; Zc 14:5-7 5Vocês fugirão pelo meu vale entre os montes, pois ele se estenderá até Azel. Fugirão como fugiram do terremoto nos dias de Uzias, rei de Judá. Então o Senhor, o meu Deus, virá com todos os seus santos. 6 Naquele dia não haverá calor nem frio. 7 Será um dia único, no qual não haverá separação entre dia e noite, porque quando chegar a noite ainda estará claro. Um dia que o Senhor conhece.
V.18 – “Orem para que essas coisas não aconteçam no inverno
Durante o inverno havia frio e chuvas fortes, complicando muito a fuga das pessoas.
Jesus está dizendo que o tempo será de tanta aflição que eles precisam orar para que não haja nenhum impedimento (natural ou religioso) para que eles consigam fugir.
Orem para que Deus tenha misericórdia e não coloque nenhum empecilho para que vocês fujam, pois aquelas horas serão de terríveis tribulações! Clamem pela graça de Deus!
No decorrer de Marcos vemos que os discípulos fracassaram nesse aspecto – eles não oram (14:37-40)!
Todos esses avisos de Jesus são como meios de graça, com os quais Jesus já está preparando Seus discípulos para os momentos terríveis que estão por vir.

III – A graça de deus na MAIS TERRÍVEL TRIBULAÇÃO (V.19)
19 Porque aqueles serão dias de tribulação como nunca houve desde que Deus criou o mundo até agora, nem jamais haverá.
ἔσονται γὰρ αἱ ἡμέραι ἐκείναι θλῖψις οἵα οὐ γέγονεν τοιαύτη ἀπ’ ἀρχῆς κτίσεως ἣν ἔκτισεν ὁ θεὸς ἕως τοῦ νῦν καὶ οὐ μὴ γένηται
Jesus anuncia que esses dias que estão chegando serão dias de tribulação sem igual!
‘TRIBULAÇÃO’ – Gk. θλψις -- aflição, angústia e desgraça. Não só externa, mas interna também.
Tribulação, principalmente uma pressão interna que faz com que alguém se sinta confinado (restrito, sem opções).” (http://concordances.org/greek/2347.htm)
Essa angústia, essa aflição será tão imensa que não poderá ser comparada com nenhum outro acontecimento na história da humanidade!
como nunca houve desde que Deus criou o mundo até agora, nem jamais haverá
Esse é o tempo profetizado por Daniel 12:1 (Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará [Miguel representa ajuda divina, proteção, liderança e salvação – apontando para Cristo]. Haverá um tempo de angústia tal como nunca houve desde o início das nações e até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto [é naquele momento que há a salvação!]) – cumprido em Jesus!
Veja que Jesus percorre desde o tempo da criação até o fim dos tempos, indicando que essa aflição vindoura excederia qualquer sofrimento já visto ou experimentado em toda a história. E não seria no fim da história! Tempo pior que o dilúvio nos dias de Noé, pior que a destruição de Sodoma e Gomorra, mais severo que a destruição de Jerusalém pelos babilônios em 586 a.C., pior que a perseguição de Antíoco Epifânio e pior que o holocausto comandado por Hitler.
Só um acontecimento pode ter sido esse tempo de tamanha aflição: a agonia do Filho do Homem no processo todo de levar o pecado do Seu povo, ser condenado, desprezado, humilhado, crucificado e ter sido abandonado pelo Pai.
Não há nada superficial e de pouca importância nos sofrimentos de Cristo na cruz. A Sua morte foi o maior sofrimento que esse mundo já viu – ou verá. Nunca algum sofrimento irá superar o que Jesus experimentou na cruz” (Peter Bolt, The Cross from a Distance – Atonement in Mark´s Gospel, IVP, pg 103)
O próprio filho do Deus tomou os pecados do mundo inteiro em seus ombros e gritou 'meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’. Aquilo nunca tinha sido visto antes e nunca será repetido. Aquele foi o tempo de maior angústia e sofrimento que já ocorreu, não é de admirar a pressão que estava sobre os discípulos para negarem o seu mestre e fugirem para própria segurança deles.
Mc 14:32-36 Então foram para um lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse aos seus discípulos: "Sentem-se aqui enquanto vou orar". 33 Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar aflito e angustiado. 34 E lhes disse: "A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem". 35 Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava para que, se possível, fosse afastada dele aquela hora. 36 E dizia: "Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres".
Lc 22:44 E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.
O ‘suar sangue’ é chamado de ‘hematidrose’. Essa reação é produzida diante de condições excepcionais: para provocá-lo é necessária uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. A tensão extrema, com contrações musculares localizadas, produzem um rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas; o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hematidrose)
Poderiam os sofrimentos de Jesus no processo todo da crucificação (humilhado, traído, cuspido, espancado, despido, abandonado, destruído, crucificado como um marginal) serem comparados com qualquer outro tipo de sofrimento? Quem ousa dizer que houve ou haverá sofrimentos e tribulações piores do que os que Cristo passou?
É muita superficialidade alegar que os dias durante a destruição de Jerusalém em 70 d.C. foram piores do que o processo de crucificação do Filho de Deus! Ou que qualquer outro período na história da humanidade possa ser comparado com aquele tempo de angústia e sofrimento que Jesus tomou sobre Si.
A pior de todas as tribulações veio sobre Jesus, e Ele estava sozinho – angustiado e aflito a ponto de suar sangue – tudo para que eu e você pudéssemos obter salvação! A gloriosa graça de Deus foi manifestada na mais terrível aflição já foi vista nesse mundo!

Iv – a soberana graça DE DEUS (Vs.20-23)
20 Se o Senhor não tivesse abreviado tais dias, ninguém sobreviveria. Mas, por causa dos eleitos por ele escolhidos, ele os abreviou. 21 Se, então, alguém lhes disser: ‘Vejam, aqui está o Cristo! ’ ou: ‘Vejam, ali está ele! ’, não acreditem. 22 Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão sinais e maravilhas para, se possível, enganar os eleitos. 23 Por isso, fiquem atentos: avisei-os de tudo antecipadamente.
v.20Se o Senhor não tivesse abreviado tais dias, ninguém sobreviveria. Mas, por causa dos eleitos por ele escolhidos, ele os abreviou.
A SOBERANA GRAÇA NA ESCOLHA NA ELEIÇÃO:
Essa sentença nos lembra de Daniel 12:1, que fala dos escolhidos de Deus que tinham o nome no livro da vida [Dn 12:1Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia tal como nunca houve desde o início das nações e até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto].
Durante um tempo tão intenso de sofrimento, a única coisa que irá prevenir os discípulos de caírem totalmente será a decisão de Deus de abreviar o tempo. Sob tamanha pressão seria fácil de eles serem enganados e levados a algo mais confortável, por isso Jesus termina com o mesmo aviso que Ele havia começado.” (Peter Bolt, Mark 13: An Apocalyptic Precursor to the Passion, The Reformed Theological Review, pg 29)
No meio de toda tribulação é a graça de Deus que preserva os Seus eleitos! No seu grande discurso preparatório para a cruz Jesus os lembra da misericórdia e da graça de Deus em garantir a salvação dos Seus.
13:22 Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos; 13:27 E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu.
Eles devem fazer a parte deles, que é estar atento, orar e perseverar, mas no final do dia eles devem saber que não foram eles, mas a graça de Deus.
No meio da pior aflição que já existiu, a graça de Deus protege os Seus eleitos. Durante todo o processo do julgamento, crucificação, ressurreição e ascensão de Jesus, foi a graça de Deus que preservou aqueles homens na fé.
por causa dos eleitos por ele escolhidos” – Os eleitos de Deus foram escolhidos por Deus! Muitas pessoas tentam acreditar que os eleitos se autoescolheram (aceitando o Evangelho), mas Jesus deixa bem claro que o eleito é aquele a quem Deus escolhe. Pois como Jesus já havia ensinado, a salvação é impossível para o homem (Mc 10:27). A salvação é um ato misericordioso e gracioso de Deus! Ef 1:4 Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.
Esse é o primeiro uso do termo ‘eleito’ no N.T... Quando Deus escolhe pessoas para Si mesmo, Ele reestruturará o universo todo se for necessário para protegê-los e cumprir as Suas promessas a eles.” (Steven Lawson, Foundations of Grace, Reformation Trust, pg 257)
SOBERANIA DE DEUS NA EXECUÇÃO:
Acima de tudo, esse versículo fala da SOBERANIA de Deus em controlar todos os eventos.
Até mesmo todo o processo do julgamento e da crucificação do nosso Senhor foi controlado totalmente por Deus. Deus estava por trás de todo o processo da nossa salvação!
Atos 2:23 - Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram, pregando-o na cruz.
Atos 4:27-28 - De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse.
Romanos 8:32 - Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas? .
Isaias 53:10 - Contudo foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer.
Apocalipse 13:8 - Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo.
Deus controlou todo o processo – desde a traição até a crucificação!
Durante os piores tempos da história da humanidade Jesus conforta Seus discípulos falando que Deus tem o controle sobre todos os detalhes!
Quão glorioso é saber que o nosso Deus controla e governa todas as coisas!
Rm 8:28-31 28 Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. 29 Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.30 E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. 31 Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
CONCLUSÃO:
1 – O mais terrível sacrilégio, a pior abominação que já ocorreu – Jesus sendo condenado como um marginal e crucificado, colocado no lugar mais repugnante que alguém poderia estar – tudo isso para que a graça de Deus brilhasse na nossa salvação!
2 – Visto que Cristo Jesus passou pela pior de todas as tribulações - para que a nossa salvação fosse assegurada - hoje temos a confiança que nenhuma tribulação nos separará do amor dEle.
Rm 8:35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?
3 - Deus controlou todos os detalhes e todos os minutos das piores aflições que já ocorreram, quanto mais Ele tem controle sobre as nossas aflições! Quando você passar pelos momentos mais difíceis, lembre-se que o Senhor tem o controle sobre todas as coisas!
Cristo venceu a morte – a pior tribulação que esse mundo já viu não foi capaz de detê-Lo, e hoje Ele reina – Ele está agrupando Seus eleitos e intercedendo por eles!
Quão maravilhosa é a graça de Deus naquele lugar tão abominável e desolador como a cruz!

2 comentários:

  1. Maravilhoso estudo, Soli Deo Gloria.

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  2. Muito bom mesmo. Deus seja louvado por sua vida. Que Ele continue a lhe dar entendimento sobre as escrituras

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